A inesperada derrota do Brasil na Copa do Mundo instaurou um dia de luto em plena sexta-feira de belo sol invernal. O dia ficou fúnebre, silencioso e triste. Um clima de baixo astral instalou-se, e parece que irá perdurar por todo o final de semana. Sair à tarde tornou-se inviável, por receio de encontrar um clima triste nas ruas e de topar com operações da Lei Seca e com gente bêbada querendo delas escapar. Baixo astral por baixo astral, melhor permanecer em casa e adiantar tarefas que sempre adiamos.
As redes de TVs dedicaram seu tempo a entrevistar os arrasados jogadores da Seleção Brasileira tentando explicar a derrota. Seus comentaristas também se incumbiram da mesma tarefa. Não há muito o que explicar no calor da derrota. A Seleção Brasileira perdeu e pronto! O esporte é feito de vitórias e derrotas, e na atual fase da Copa do Mundo não ocorrem empates; há apenas vencedores e vencidos. E mereceu a derrota pelo que deixou de apresentar no segundo tempo. A Seleção apenas jogou durante o primeiro tempo, quando Robinho fez o gol e o Brasil segurou a partida, deixando a seleção holandesa perdida e deixando crer estar o jogo ganho, e que bastava ao Brasil administrar o placar ou tentar fazer mais um ou dois gols e liquidar o lance. Todavia, veio o gol da Holanda, e a instabilidade emocional do Brasil aflorou. A expectativa era de que a equipe voltasse melhor para o segundo tempo.
Tal fato não aconteceu. O Brasil voltou mal e piorou depois do segundo gol que tomou, para alguns gol contra do Felipe Melo e para a FIFA, gol do holandês Snjider, evitando um massacre ainda maior ao Felipe. Afinal, o sujeito deu o passe para o gol do Brasil e, já com um cartão amarelo, chutou covardemente um adversário caído e tomou o segundo cartão que se converteu numa expulsão de campo. Passou do céu ao inferno em poucos minutos, mas foi eximido da autoria do gol contra. A Seleção nunca mais se encontrou em campo. Era somente uma questão de esperar pelo apito final. Faltou um líder, alguém que tivesse disposição e frieza para brigar até o último segundo de jogo. O Lúcio tentou desempenhar este papel, mas era muito para ele.
É fácil para nós que estamos de fora cobrarmos maior frieza emocional dos jogadores. Mas os jogadores também são seres humanos como nós, e sujeitos a erros. Se a derrota deixa a gente com o coração apertado e uma tristeza muito grande, imagine como ficam os jogadores de futebol. Não dá para crer em que eles estivessem ali irresponsavelmente, sem se importar. Neste aspecto, os nórdicos são mais frios. A emotividade latina tem muito peso numa hora destas.
É impressionante como, mesmo conscientes de que ganhar e perder faz parte do jogo e da vida, uma derrota como a de sexta-feira abala muito, mais a uns, menos a outros, pois cada um tem seu jeito de assimilar a derrota. O fato é que, como disse o goleiro Júlio César, o mundo não acabou, e é preciso voltar à normalidade e seguir em frente, aprendendo com os erros e não esquecendo dos acertos. É terrível como, numa hora destas, há pessoas que gostam de massacrar os atletas e a comissão técnica, esquecendo tudo o que de bom eles já fizeram e concentrando-se nos erros e falando mal como se tratassem de profissionais sem valor. Esquecem que somente não erra quem não faz.
A derrota da Argentina, no sábado, transmutou nossa tristeza em alegria, pois acabou com a empáfia do Maradona. Caso a seleção fosse a campeã, ele ficaria insuportável. E a derrota portenha foi mais humilhante: eles caíram de quatro para uma seleção muito bem estruturada, a alemã, séria candidata ao titulo. Pensando friamente, porém, é incrível como temos a capacidade de torcer para uma seleção européia e não pela seleção de um país vizinho e que pratica um belo futebol, como a Argentina. A Copa virou agora uma competição européia, envolvendo Alemanha, Holanda e Espanha, e com apenas uma seleção sul-americana nos confrontos: a do Uruguai. Caso a seleção uruguaia seja campeã, será maravilhoso, pois representará o reerguimento do futebol uruguaio depois de tantos anos de ostracismo. E veremos um país vizinho campeão. Mas a conquista por parte da Alemanha é a mais provável, se bem que em futebol tudo é possível.
O técnico Dunga foi demitido da Seleção de uma maneira fria, através de um comunicado no site da CBF. É tão desrespeitoso quanto uma demissão por telefone. Agora, começaram as especulações a respeito de quem será o novo técnico, que, sobretudo, deverá ter preparo emocional para lidar com as críticas e cobranças sempre direcionadas a quem ocupa este difícil cargo.
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