domingo, 23 de março de 2014
Entrevista com Joaquim Barbosa
A entrevista com o presidente do STF, Joaquim Barbosa, inaugurando o programa Conexão Roberto D´Ávila, no canal GloboNews, foi boa. Ele reafirmou aquilo que muita gente já sabe: o Brasil é o país dos conchavos e daqueles que se dão bem a custa de amigos poderosos. E reafirmou que abomina tudo isto. A democracia brasileira, admitamos ou não, é uma das dez mais consolidadas do planeta, e merece ser tratada com muita responsabilidade, pois é coisa séria. Disse que não pretende se candidatar às eleições de 2014, mas não descartou a possibilidade de se candidatar no futuro, pois não faz planos. Joaquim detesta dar tapas com luvas de pelica. Prefere dar tapas mesmo, daí a sua agressividade verbal quando algo o desagrada. Porém, disse que não leva nada para o lado pessoal. Disse ser contrário a propostas que demonstrem uma invasão aos outros poderes, como a cassação de um deputado ou a decisão sobre a lei de greve, pois isto afeta a estrutura básica da tripartição dos Poderes. Mas o fato da solução destas questões ter caído no Supremo decorre das lacunas da Constituição da República. Afirmou que a imprensa brasileira contemporânea é muito fixa em pessoas, e não em ideias. Não dá para deixar de lembrar da famigerada imprensa de celebridades, que vive de falar mal de pessoas. Falou bastante a respeito do racismo, que o afetou desde sempre e que domina as relações em todos os níveis. As pessoas não olham o currículo dele, e sim a cor de sua pele. Disse considerar bobagem se reportarem à sua origem pobre para o marcarem como alguém que se esforçou muito e estudou para ascender. No seu modo de ver, a chave para o sucesso está nas pessoas aproveitarem ou não as oportunidades que aparecem, independentemente de serem ricas ou pobres. Ele aproveitou todas as oportunidades. Foi uma criança tímida que apanhava do pai,, como era normal naquele tempo. Desde os catorze anos já se havia decidido pela área jurídica, pois gostava de matérias ligadas a ciências humanas (história, geografia, português, idiomas). E foi rebelde: contrariando o pai, preferiu ir para Brasília em vez de ir para BH. Formou-se pela UNB (onde estudou durante o Regime Militar com militares à porta da sala de aula - e ainda há gente que deseja o retorno da ditadura). Estudou por três anos na Sorbonne, na França. Estudou também na Alemanha e nos EUA. Quantos ricos têm estas oportunidades e não aproveitam? O grande problema do racismo no Brasil passa pela educação, pois ela é negada à maior parte dos negros. Disse que, quando o ex-presidente Lula o chamou para acompanhá-lo em sua primeira viagem oficial à África, recusou porque não é da praxe oficial que o presidente do STF acompanhe o presidente da República em viagens oficiais, e também por observar uma exploração política da sua condição de negro. Segundo Joaquim, é vergonhoso que um país com metade da população negra não tenha um membro da diplomacia desta raça. Isto denota internacionalmente o racismo que prepondera por aqui. Afirmou gostar muito de música. Atualmente, aprecia os clássicos, exceto os dodecafônicos. Mas gosta de música popular e apreciou rock no passado. Entre Beatles e Stones, prefere os dois, e lamenta não ter tempo para apreciar os concertos quando viaja para o exterior, atualmente. O problema de coluna que o castiga fez com que terminasse a entrevista de pé.
Trata-se de uma personalidade que encarna a moral que o brasileiro médio gostaria de ver sendo praticada com mais vigor. Talvez fosse melhor que Joaquim Barbosa nem cogitasse entrar na política, sob pena de ser massacrado pela tal imprensa personalista, que se esmerará em encontrar algum deslize seu para desmoralizá-lo. Fora os políticos e seus métodos imundos. A política brasileira carece de ânimo para quem almeja um país mais sério. Está muito difícil acreditar em pessoas comprometidas com o futuro do pais. Elas até existem, mas isoladamente não conseguem levar adiante as suas boas ideias, pois os velhos hábitos de lucro próprio a qualquer preço se mantém firmes e fortes. Joaquim é uma destas pessoas. Será que gostará de encarar a carreira política para tentar fazer com que o Brasil melhore de outra frente, a do Legislativo? O tempo dirá!
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