domingo, 24 de março de 2013
Amada Amante
À noite, vi o filme Amada Amante, marco da chamada era da pornochanchada do cinema pátrio. É um filme de Cláudio Cunha, diretor que ficou famoso pelo teor dos seus filmes, picantes demais para a época, e pelo fato de cantar as atrizes com quem trabalhava. Curioso reparar que o filme, embora ainda não seja inocente para os tempos contemporâneos, perdeu muito da aura de proibido da época. Situações ali mostradas são hoje corriqueiras. Foi muito legal recordar cenas de um Rio da década de 70. O filme, que é de 1978, exibe cenas de um Centro da cidade do Rio às voltas com a construção do metrô e uma orla de Ipanema com um calçadão central que não existe mais. As tangas baixinhas da época, com o início da racha do bumbum à mostra, eram ousadia pura. Foi bom rever atores já falecidos, como Sandra Bréa, minha ídola de infância, assim como os ainda vivos Rogério Fróes e Neuza Amaral. Uma Simone Carvalho no viço absoluto da juventude e um Luiz Gustavo ainda jovem, com ar de safado, também se fizeram presentes. Fora o Carlos Imperial bem gordo e num papel de safado que lhe era usual. E o filme me surpreendeu positivamente no tocante ao enredo. Eu esperava algo inocente, banal, bobo, mas o filme traz à tona questões interessantes como o choque cultural entre as pessoas que vêm do interior, mais inocentes e com uma moral bem puritana, e a cidade grande liberada. O Rio, em especial Ipanema, aparece como o estereótipo do lugar que é totalmente liberado. Aliás, tudo é bem estereotipado no filme. A questão da opressão da mulher também é intensa na história, que mostra bem a dicotomia entre a mulher dona de casa, envolta nas atividades domésticas e dessexualizada, e a mulher “da rua”, encarnada pela secretária do patrão, com quem ele passa a ter um caso fundado somente no sexo. A hipocrisia masculina de oprimir a mulher e o restante da família, composta por duas filhas e um filho, especialmente as duas filhas, enquanto, fora de casa, mantém um comportamento totalmente oposto, é mostrada. A partir do momento em que o patriarca é desmascarado em seu caso extraconjugal, a família tal qual era alicerçada desmorona, e todos passam a exercer uma sexualidade mais liberada. Esta é ainda uma questão atual numa era em que convivemos com liberalismo e também com opressão, ou com as confusões decorrentes do choque entre ambas as posturas.
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